segunda-feira, 21 de junho de 2010

Portugueses, Portuguesas

A selecção nacional, que o mesmo é dizer, nos termos do saudoso estadista braileiro Garrastazu Medici, «a pátria de chuteiras», peleja na África do Sul contra selvagens africanos, colonos revoltos das Américas, e o multissecular inimigo de Deus e do Ocidente e da Liberdade que é o comunismo coreano. É portanto justo e lícito, quase diria «é ingente», que cometamos aos que representam a pátria e a têmpera da raça na nobre arte do chuto na bola o máximo e mais desprendido dos apoios, o máximo e mais desinteressado dos entusiasmos.
Isto é uma coisa. Coisa toda outra é que façamos fitas, que façais, vós, portugueses e portuguesas, fitas inomináveis quando um homem de microfone vos insta a propósito do vosso apoio e do vosso entusiasmo. Coisa toda outra é puxardes da ominosa vuvuzela para a tocardes para o microfone. Coisa toda outra é, enquanto o jornalista fala para a câmara, vos amontoardes atrás dele bramando como cabras no monte; coisa toda outra é falardes para o microfone em berros de bêbado estúpido, cuspilhando entre gritos de «força Portugal», tão patrióticos, uma contraditória correnteza de expressões no inglês sul-africano que vos foi dado aprender enquanto limpáveis retretes nalgum shopping para africâners.
Em suma, portugueses e portuguesas: se quereis verdadeiramente protestar o vosso apoio à selecção, fazei-o sem hesitar - mas fazei-o sem a postura kistch e prenhe de mau aspecto que vos faz gozados entre nós e no estrangeiro. Fazei-o buscando fugir à pimbície que vos eiva o espírito. Fazei-o sem a atitude ridícula e parola que vos faz, entre outras coisas, ser satirizados pelo anafado autor deste blogue. No total rigor dos termos, sêde apoiantes da selecção: mas com dignidade e um mínimo de decência de gosto.

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