sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A Pedido da Rita-Sadina...

1. Quem foi a última pessoa que te disse “amo-te”?
- Eu. Todos os dias de manhã me declaro a mim mesmo. Por isso é que ao fim de 23 anos ainda estou apaixonado por mim.

2. Lamentas-te muitas vezes?
- Sim. Sou mimado.


3. És tímido ou extrovertido?
- Disfarço a minha timidez com uma extroversão postiça que engana qualquer um.


4. És um rapaz ou uma rapariga?
- Um homem.


5. Qual é o estado da tua relação?
- Estado de sítio.


6. Como queres morrer? Como?
- «If I gotta die, I rather homicide» (50 Cent, feat. The Game, in «Hate it or Love it»)


7. Qual foi a última coisa que comeste?
- O combinado 16 do Tropical Burger: salsicha e ovos com batata frita. Coisa saudável.


8. Fazes algum desporto?
- Não, mas danço imenso. Tótil. Upa upa.


9. Róis as unhas?
- Só os sabugos.


10. Quando foi a tua última luta física?
- No 6º ano. Um colega de turma deu-me um murro, e um primo meu partiu-lhe a cana do nariz. Correu na escola que a minha família me protegia, e, por um mal-entendido qualquer, com 11 anos já era tratado por Don Vilela...


11. Tens atitude?
- Não se vê logo?


12. Gostas de alguém?
- Aprendi que devo gostar de mim, e, quando muito, interessar-me por alguém.


13. Odeias alguém neste momento?
- Alguém específico? Só tipos de pessoa. Odeio defeitos, não indivíduos.


14. Sentes falta de alguém?
- Falta não. Saudade, às vezes. Mas é uma saudade brasileira, do tipo «foi tão fixe ter conhecido x».


15. Como te sentes hoje?
- Com fome. Já ia uma sanduíche.


16. Já comeste num carro onde alguém ou estavas a conduzir?
- Sim. Comer é o menos, o pior é fumar. Nunca entendi como é que há quem consiga conduzir e fumar. Tenho alto respeito por gente assim.


17. Tens medo de aranhas?
- Elas é que têm medo de mim. Quem tem medo de uma cena com 0,000001% do seu próprio tamanho?!


18. Se te dessem a oportunidade de voltar atrás, tu voltavas?
- Só se fosse beeeeem atrás. Meia dúzia de anos era irrelevante. Voltar ao infantário. Nessa altura lembro-me que insistiam comigo para dormir de tarde. A sério, eu era PUNIDO por dormir POUCO. Se aquilo não era vida...


19. Lamentas alguma coisa no teu passado?
- Não ter publicado um livreco tipo Uma Aventura que escrevi em miúdo. Era uma cagada geral, mas tinha ficado com fama de menino-prodígio e hoje era milionário.


20. Quais os teus planos para este fim-de-semana?
- Café, ver bola, comer, dormir.


21. Queres ter filhos?
- Não. Pretendo fazê-los. Parir deve doer como tudo.


22. Já alguma vez beijaste alguém cujo o nome comece por M?
- Não querendo explorar muito, sim, já.


23. Tens piercings? Onde?
- É evidente que não. Os piercings são coisa de jogador de futebol e porn star. Se alguma rapariga vir istoe se zangar, só lhe faço uma pergunta: em que clube jogas?;)


24. Consegues falar bem?
- Tendo a não conseguir falar normalmente, quanto mais mal.


25. Sentes falta de alguém do teu passado?
- Da minha prof de Matemática do 3º Ciclo. Lembro-de de uma aula em que ela levou umas calças de ganga justíssimas,e ah, homens do pensamento, não sabereis nunca o que a minha lascívia soube naquele momento....


26. Já fizeste alguma festa do pijama?
- Dependendo do que o conceito possa significar, é possível.


27. Já alguma vez estiveste em cima de um cavalo?
- Não. Só de éguas. Mas sobre a FLUP falo noutro dia.


28. Já beijaste alguém que agora te envergonhes ao recordar?
- Isso certamente que não! O meu bom gosto é irrepreensível.


29. Já partiste o coração de alguém, no amor ou na amizade?
- Já, mas foi por vingança.


30. Já alguma vez fizeste uma namorada chorar?
- Ir às lágrimas, sim.


31. Queres viver com alguém sem casar?
- A parte formal da coisa é meio irrelevante.


32. O que devias estar a fazer?
- Se eu devesse estar a fazer outra coisa, não estava a responder a isto.


33. Tens namorada?
- Não.


34. Qual é a tua cor favorita?
- Preto e azul-marinho.


35. Já alguma vez mudaste de roupa dentro de um veículo?
- Mudar não. Já despi e tornei a vestir.


36. Confias facilmente nas pessoas?
- Depende. Tenho um faro apuradíssimo para gente sem carácter. Nessas nunca confio. Nas outras, tenho sempre uma confiança reticente. Ama-se sempre com um pé no chão, como diz uma música de pitas que não me lembro.


37. Tens uma boa relação com os teus pais?
- Depende dos dias, mas em traços gerais, é genericamente boa com o meu pai e má com a minha mãe.


38. Qual foi a última pessoa que te viu chorar?
- Provavelmente uma educadora do meu infantário. E devia ser de raiva por ter de cantar o «Atirei o pau ao gato» quando - e tenho quem possa provar isto! - já então dizia «oh menina Dores, não me ponha a cantar isto! É humilhante!».


39. Dás segundas hipóteses facilmente?
- Sim. Mas não dou terceiras. Nunca.


40. É mais fácil perdoar ou esquecer?
- Perdoar. Eu nunca esqueço.


41. Este é o melhor ano da tua vida?
- Não me queixo: trabalho na minha área, acabei o mestrado, tenho finalmente um telemóvel mais hi-tech que o dos meus amigos. E antes do fim do ano, estou certo, a Halle Berry vai dar-me prazer carnal.


42. Qual o nome que te chamavam em criança?
- Carlitos. A minha mãe ainda hoje mo chama, com derivativos como Litos e Litinhos.


43. Já alguma vez foste para algum sítio público completamente despido?
- De preconceitos? Não.


44. Acreditas que tudo acontece por um motivo?
- Nem que seja a causa imediatamente anterior. Agora, se acho que tudo está planeado na minha vida? Ou na de todos? Espero que não. Quem planeou que o «motivo» da vida de um trilião de putos etíopes é em morrerem de fome é um bom filho da ....


45. O que é que te incomoda?
- Gente. Em geral. E aquela que não sabe estar tanto mais.


46. Já alguma vez tiveste fora do país?
- Por supuesto.


47. Alguma vez jogaste DS? Se sim, qual jogo?
- Provavelmente sim, mas pelo nome não vou lá.


48. Estás a ouvir musica neste momento? Se sim, qual é?
- Sim. Imperial March do Darth Vader, da guerra das estrelas. Ouço muito quando penso em discursos para fazer quando for ditador-vitalício do planeta Terra.


49. Gostas de comida chinesa?
- Provavelmente. Só prover chop suey de frango e gostei. Mas já comi gafanhoto à mexicana, aka «chapolines», e gostei. Portanto, venha de lá a chinesice mais marada.


50. Tens medo do escuro?
- Não lhe chamem isso. O tipo tem nome: Francis Obikwelu. E não, não tenho medo dele. Achar que se deve ter medo das pessoas feias é, acrescento, uma coisa horrível de se propor.


51. Fazes batota?
- Não. Mas faço bluff. E sou excelente.


52. És rancoroso?
- Nunca mais me vou esquecer dessa pergunta. Ah, e a frase «I don't forget, I don't forgive» ainda um dia estará numa placa à porta de minha casa.


53. Consegues manter sapatos brancos limpos?
- Só se forem da vestimenta de malandro.


54. Acreditas no verdadeiro amor?
- Sim. Eu amo-me verdadeiramente.


56. É amoroso quando uma rapariga te trata por “bebé”?
- Se me amamentar...


57. Estás com fome?
- Há pouco disse que sim, mas entretanto fui comer qualquer coisa. Ainda falta muito?


58. Mudavas o teu nome?
- Jamais. João Carlos é nome de Rei, Vilela é nome de casa ducal, e Cruz Moreira é nome de advogado. «O Cruz Moreira na barra é uma fera!», consigo ouvir.


59. Já alguma vez te sentiste abandonado?
- Estou sempre comigo. Nunca estou só.


60. Qual é o teu signo?
- Leão.


61. Gostas de andar de metro?
- É engraçado, mas prefiro taxi. Sim, é snob, mas é a melhor coisa do planeta.


62. Foi difícil beijar a última pessoa que beijaste?
- Nem por sombras. Só lhe faltou pedir por favor.


63. Um amigo do sexo oposto gosta de ti, o que fazes?
- Parto para cima se solteira, descarto-a em caso de comprometimento meu ou dela. No hugs, no lessons. A regra é essa.


64. Já alguma vez fingiste não ver alguém que conhecias?
- Ainda hoje.


65. És teimoso?
- Mais uma vez, é uma questão de definição: exigir que digam que estou correcto quando é evidente que estou e a outra pessoa é simplesmente ignorante demais para reconhecer - pode ser teimosia?


66. Qual foi a ultima pessoa do sexo oposto que falou contigo?
- Presencialmente, a minha mãe. Por SMS, a Rita Sadina.


67. Faz diferença que a pessoa com quem namoras fume?
- Não, bem pelo contrário. Estranhamente, nunca namorei com uma fumadora, mas acho uma mulher a fumar incrivelmente sensual.


68. Já andaste à porrada com alguém?
- Pergunta repetida.


69. Já tiveste uma curte de uma só noite?
- Sim.


70. Qual é o melhor companhia para uma tarde de filmes? Pipocas ou bolachas?
- Cerveja e amendoins. E não venham com «hey, macholices!». Ao sétimo dia Deus não descansou: estava inspirado, e escreveu um poema. Esse poema é o sabor da cerveja e do amendoim a fundir-se na boca durante uma tarde esparramada no sofá.


71. Qual foi a ferida mais estúpida que fizeste na tua vida?
- O meu primeiro corte a fazer a barba. Usei uma navalha de barbeiro, e fiquei com um corte no queixo que parecia uma chaga do Senhor dos Passos.


72. O que é te tira do sério?
- Paradas militares, metralhadoras, charutos, e sorrisos de mulher.


73. Qual foi o teu maior susto?
- Raras vezes me assusto.


74. Como foi o teu pior pesadelo?
- Meio ridículo: nele o PM era acusado de falsificar o curso, de ter tentado censurar uma televisão, de ter licenciado obras em reservas naturais, e o challenger dele queria acabar com os serviços públicos de educação e saúde. Isto, bem sabemos, jamais seria verdade.


75. Como foi o teu melhor sonho?
- Curiosamente nem sequer foi de índole sexual: foi um sonho em que antevi o meu filho. E mais não digo, que já isto é desvendar muito.


76. Gelado de baunilha e chocolate ou banana e chocolate?
- Odeio gelado.


77. Uma mordidela ou uma lambidela?
- Cumulativamente.


78. Um sorriso ou uma gargalhada?
- Depende da causa: uma gargalhada depois de me despir é meio desmotivante. Um sorriso quando digo uma piada fabulosa, idem. As coisas têm tempos.


79. Qual é a palavra que mais gostas?
- Há duas: sarrafusca e comilanço.

80. Livro ou filme?
- Estou a desaprender a gostar de livros, com a cena de dar História de Arte. Uma palavra pode valer mil imagens, mas é pouco directa.


81. Três animais:
- Lobo, leão, escorpião. Solitário, nobre, implacável. Eu.


82. Cerveja vodka ou whisky?
- Whiskey! (8)We've lost our good old mama, and must have whiskey, oh, you know why (8).


83. Aptidão para cantar ou desenhar?
- Para cantada.


84. Duas palavras para te definir:
- João Vilela.


85. A vida não pode ser...
- ...morte. Sábias palavras de Lili Caneças, vulto da filosofia portuguesa e narciso do Egipto.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Portugueses, Portuguesas

A selecção nacional, que o mesmo é dizer, nos termos do saudoso estadista braileiro Garrastazu Medici, «a pátria de chuteiras», peleja na África do Sul contra selvagens africanos, colonos revoltos das Américas, e o multissecular inimigo de Deus e do Ocidente e da Liberdade que é o comunismo coreano. É portanto justo e lícito, quase diria «é ingente», que cometamos aos que representam a pátria e a têmpera da raça na nobre arte do chuto na bola o máximo e mais desprendido dos apoios, o máximo e mais desinteressado dos entusiasmos.
Isto é uma coisa. Coisa toda outra é que façamos fitas, que façais, vós, portugueses e portuguesas, fitas inomináveis quando um homem de microfone vos insta a propósito do vosso apoio e do vosso entusiasmo. Coisa toda outra é puxardes da ominosa vuvuzela para a tocardes para o microfone. Coisa toda outra é, enquanto o jornalista fala para a câmara, vos amontoardes atrás dele bramando como cabras no monte; coisa toda outra é falardes para o microfone em berros de bêbado estúpido, cuspilhando entre gritos de «força Portugal», tão patrióticos, uma contraditória correnteza de expressões no inglês sul-africano que vos foi dado aprender enquanto limpáveis retretes nalgum shopping para africâners.
Em suma, portugueses e portuguesas: se quereis verdadeiramente protestar o vosso apoio à selecção, fazei-o sem hesitar - mas fazei-o sem a postura kistch e prenhe de mau aspecto que vos faz gozados entre nós e no estrangeiro. Fazei-o buscando fugir à pimbície que vos eiva o espírito. Fazei-o sem a atitude ridícula e parola que vos faz, entre outras coisas, ser satirizados pelo anafado autor deste blogue. No total rigor dos termos, sêde apoiantes da selecção: mas com dignidade e um mínimo de decência de gosto.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A Poesia das Intermitências

Não é por brincadeira que costumo falar aqui da «nobre arte do engate». A coisa é uma arte como outra qualquer, tão capaz de causar deslumbramento com a complexidade e o brilhantismo que exige como um quadro de um bêbado, ou um poema de um panasca. Gajo que é gajo é artista: e se não for porque faz odes à guerra ou marchas para paradas militares, é porque cria com perfeição a situação da gaja segura.
Ah, como é gratificante vermo-nos numa situação de gaja segura! De início o esforço é complicado: é preciso aquele exercício permanente de tradução de Português para para aquilo-que-a-moça-quer-ouvir-ês, língua onde «o teu rabo clama por palmadas» passa a ser «és maravilhosa», onde «quer afogar-me nas tuas mamas» vira «o teu sorriso é um céu», onde «vamos, filha, ajoelha e brinca com o Zezinho» é «aquilo de que mais gosto em ti é a tua personalidade». Muitos homens soçobram nesta parte, indispostos ao esforço tradutor: mas o que dá alento aos que resistem é saber que, quando conseguiram dominar o aquilo-que-a-moça-quer-ouvir-ês como uma língua materna, acharam a chave para abrir muitas portas - sobretudo portas de quartos, com chantilly e algemas na mesa de cabeceira.
Mas não chega este esforço de tradução para a assegurar. Com ele a menina tira a roupa muitas vezes, mas só com a poesia da intermitência a tirará sempre: quando o gajo a adular num dia, e não falar noutro; quando a possuir à bruta, e não telefonar depois; quando sair com ela, e depois se esquecer; quando tiverem contacto e se cortar a ligação - quando tudo isto suceder, ter-se-á nela, permanentemente, um estado de excitação ansiosa, e uma dúvida perene sobre as reais intenções do homem: «esteve comigo e depois não ligou. Mas esteve e não avançou. Se calhar basta-lhe estar comigo e não quer avançar. Ohhh, tão querido! Da próxima dou-lhe o toque e ele avança, em recompensa». Sim, menina que assim pensas, «em recompensa», sim, mas do nosso esforço e talento no uso da intermitência.
Falar outra língua e gerir expectativas, eis no que se resume o ter gajas na mão. Quem souber fazer bem as duas coisas chega ao nível máximo do vilelismo. Quem nasce como eu, suplanta-o por volta dos 13 anos.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A Grandiosidade da Indústria Russa de Armamento ou Da Querela Entre a Pinta e a Eficácia

Decorre há algum tempo uma polémica absolutamente parva no mundo dos adeptos fervorosos do engenho humano para a nobre arte da chacina. Por outras palavras, decorre entre os homens a sério, há algum tempo, uma polémica perfeitamente parva: devemos considerar como melhor metralhadora do mundo uma arma russa ou uma arma americana? Devemos pôr o enfoque na fiabilidade do disparo da M-16? Na brutalidade destrutiva do projéctil da AK-47? Na inexprimível resistência da Simonov 45? Ou no poder de fogo da M-60?
Quanto a mim, todos os argumentos até agora esgrimidos a favor e contra o armamento quer russo quer americano esquecem o fundamental. As armas servem não só para matar mas sobretudo para matar com pinta. Lembremo-nos dos filmes de mafiosos, que qualquer gajo normal viu setecentas vezes e dos quais sabe largas passagens de diálogos de cor: o que é mais importante ali? O número de cadáveres amontoados ou o requinte de brutalidade com que cada vida é arrancada ao homem? Tenhamos um pouco de sofisticação, que diabo. É com base na sofisticação que tem - ou faz crer ter - que um gajo arranja miúdas para lhe fazerem lap dances. E nenhuma miúda achará aceitável um tipo que lhe diga «eu curto é ver 100 mortos por filme», preferindo, obviamente, um outro que assevere «o número de mortos não importa, eu gosto é da criatividade que o assassino põe no acto assassinante». As miúdas gostam de originalidade, é uma evidência, e gostam sobretudo de um tipo que tenha sensibilidade para a estética das coisas. Nesse sentido, um homem que sabe conferir à pinta da arma e do estrago que ela causa o grau principal na sua avaliação, é o que mais facilmente vai arranjar miúdas. E isso é a prova maior de que é um gajo a sério.
Porque é que a metralhadora russa é melhor, em pinta do que a americana? Por Deus! Só quem nunca ouviu o ruído artificialóide de uma arma americana, e depois a musicalidade mortífera de uma arma russa; só quem não comparou as linhas engomadas de uma M-16 ao aspecto virilmente ronceiro de uma AK-107; só quem não comparou, mentalmente, o que seria um fuzilamento feito sob o matraquear bruto, duro, másculo da arma russa, com um outro recorrendo à sonoridade industrial e insípida da arma yankee pode fazer essa pergunta. E quem nunca fez isto não é um homem valente. Não está em condições nem de pensar que pode opinar sobre um tema destes.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Lição Para os Alternativos

Se a minha espectacularidade não fosse tão absoluta como é, eu não teria o grau de vilelismo que tenho. Esqueçam, portanto, a ideia de chegarem ao meu patamar: é um talento inato. Contudo, atingir um grau mediano de vilelismo não exige outra coisa que não esforço para ser um homem a sério. É isso que se aconselha acima de tudo, e disso faz parte a vigilância para não entrar por caminhos esquisitos para chamar a atenção das mulheres e tentar expressar virilidade. Falo, já entenderam, da praga desviante a que chamam «os alternativos». Cumpre ter a generosidade de os chamar à razão e de os colocar no caminho que os guia à condição de gajos como deve ser.
Eu sei bem o que faz com que um gajo se torne um alternativo. Trata-se geralmente de alguém que se fartou de uma vida patética de morto-vivo, andando de bar em bar a farejar hipóteses para transformar a historieta deprimente e acinzentada a que se atrevem a chamar vida nalguma coisa de minimamente parecido com uma existência humana. E que, ante a mil vezes repetida incapacidade de o fazer, desenvolveu um mecanismo de defesa: passou a pensar que a culpa não era dele por não ter sucesso entre as mulheres. Que não era por ser alarve, ou desinteressante, ou, vá, geneticamente falhado. A culpa era do mundo que não o compreendia. Que não estava pronto para ele. Que não percebia a que ponto o tipo era brutal e excelente. Portanto, como é mais normal ser toda a gente a estar errada e o alternativo ser o único que está certo, a sua espectacular capacidade de raciocínio revelou-lhe que melhor seria que ele voltasse costas ao mundo e seguisse um caminho totalmente novo, inconformado, alternativo. Para isso uns deixavam de tomar banho, outros passavam a vestir de preto, outros tinham outras patetices, e todos falhavam redondamente.
Pode haver quem diga que há gajas que gostam de alternativos. É capaz. Mas também há pessoal que gosta da música Christina Aguillera. Ora, o facto de haver doentes no mundo evidentemente não justifica que nos portemos como eles. Portanto, não vamos ter em consideração o nicho microscópio das miúdas que olham para a esquisice e não vêm que é esquisice: vamos ter por base as que são normais e que pensam normalmente. Ora, essas, diante de um alternativo, farão a pergunta óbvia: «mas então, para o teu inconformismo ser total, porque é que não usas as calças na cabeça e os sapatos nas mãos? Porque aceitas as regras da sociedade que não te compreende nessa matéria?». O alternativo, exposto assim no seu ridículo pela sensatez praticamente nula da gaja média, sentir-se-á vexado: mais vale perceber a tempo, porque eu lhe ensinei, que o caminho a seguir é ser um gajo normal. Vestir-se como um gajo normal. Beber whiskey e vodka puro, como um gajo normal. Fumar como um gajo normal. Ter uma arma de fogo em casa, uma admiração infinda por Pinto da Costa, uma disposição inata para insultar o puto gordo da turma, e um bloquinho cheio de estratégias infalíveis para possuir a Diana Chaves - tudo como um gajo normal. Têm de entender que um homem a sério, um homem como deve ser, um homem que preza a sua virilidade (e que, já agora, tem intenções de se servir dela...) tem de se portar como um homem, se quer arranjar... uma mulher. Este esforço de mostrar a evidência a quem não a quer ver é importantíssimo neste blogue. E eu vou fazê-lo: eu terei essa generosidade convosco.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Vilelismo

Como toda a gente sabe, uma das ideias principais da filosofia hiperbórea é a de que a transformação absoluta de todos os valores exige uma reconversão radical da forma de perceber o mundo, patente na definição de novas categorias mentais e de um quadro de valores sem paralelo nos do passado que sirva de base à compreensão nova. Quem me lê poderá dizer «toda a gente?, mas eu nunca ouvi falar disto!». Se foi o seu caso, informo-o, do alto da minha sapiência, que não é gente: é um não-vilélico. Integra-se numa espécie imensamente maioritária, vai ter muitos amigos, há-de certamente haver quem o julgue simpático e afável, mas se não fosse este blogue nunca podia sequer sonhar em ser uma pessoa. Leia tudo o que escrevo umas boas dez vezes, tome notas, recite na viagem para o emprego. Faça de mim o seu Deus e sobreviverá.
Por oposição ao não-vilélico está, evidentemente, o vilélico. Vilélico é tudo o que no mundo é belo, bom, salubre, doce, e sobretudo viril e grato ao género feminino. Vilélica é a forma dos elogios, é a técnica do olhar, é o comportamento sexual e sumamente tudo o que qualquer moçoila que vos passe pela cabeça - sim, Kate Moss inclusive - possa supor ser o que de mais estrondamente bestial existe na Terra. É pois sorte vossa que um homem como eu, profuso teórico da Filosofia Vilélica, se disponha a partilhar os segredos da mente fêmea. Faço-o não porque gosto dos homens, que, afinal, podiam ter pensado e chegado lá; nem porque gosto das mulheres, a menos, claro, que tenham uma relação de proporcionalidade inversa entre o álcool bebido e a roupa vestida; a minha única motivação é uma só: mostrar-vos o quanto consegue descobrir sobre o mundo uma mente brilhante que decide investigá-lo. Tratem de aprender comigo. Eu não duro sempre.

Para Começar

Eu devia começar este blogue fazendo outra coisa qualquer que não fosse isto das «introduções», das «apresentações», das «iniciações», das «declarações de princípio». Quem gosta muito de preliminares são as gajas: com um homem valente vai-se directo ao ponto e em menos de nada está-se na parte do cigarro vitorioso.
Mas vou fazê-lo. Primeiro, porque assim atraio imediatamente a atenção das gajas - e, confesso, essa é a função nº 1 deste blogue -, que diante da minha verve proverbial e do procedimento que tanto lhes agrada ficarão imediatamente seduzidas. Depois, porque eu sou professor. Não importa para já de quê (embora seja uma evidência ululante que lecciono uma matéria viril e bruta), mas só saber que o sou: e que, como tal, o meu dever é ensinar. Nomeadamente, ensinar aos homens que me leiam exactamente o que vai na cabeça das gajas que querem. A mente fêmea não é complicada: de facto, vive sobretudo de conseguir vender a ideia de que é complicada, uma das maiores obras de marketing da História. Mas percebe-se bem o que é perceptível, e rapidamente se consegue entender que o que não é perceptível também não é relevante. Verão que o que digo é exactamente verdade, ou não fosse eu um tipo brutalmente fabuloso. Mas como sinto que me começo a alongar, que já estou há demasiado tempo a engonhar antes de investir para senhora desnuda, acabemos aqui a introdução e vamos à escrita.